Segunda-feira, duas horas da manhã. Não era um dia especial, nenhuma expectativa de sair da rotina, nenhum problema que não os do meu cotidiano estressante e enfadonho, mas só o cansaço e a insônia de sempre. No meu quarto, além de mim e um silêncio mortal, meus olhos arregalados e dentro do peito um barulho ensurdecedor: tum-tum... tum-tum... tum-tum... Nunca havia prestado atenção nas batidas do meu coração e de como elas são poderosas.
Ele batia compassadamente: cinqüenta batimentos por minuto, ritmados, contados e recontados. Meus dedos espremiam minha jugular e todas as veias do pescoço e em cada minuto entremeado por outro longo minuto. Eu era tomada por um medo súbito de morrer. Será que aquelas batidas lentas eram o prenúncio da morte? Aquela lentidão não era normal. Em contrapartida, eu morreria dormindo, pois estava decidida a dormir em paz.
A situação era meio ambígua, mas tudo o que eu precisava sentir naquele momento era paz. Não queria outra coisa, só paz! Tive um ímpeto de pensar nas contas que tenho para pagar, na minha graduação, nos filhos que ainda tenho que criar, nos netos que quero “deseducar”, nas viagens que pretendo fazer, na dieta que eu havia começado e na saudade que eu sentia de uma porção de coisas que ainda não vivi. Quase me perdi em devaneios.
Também pensei em rezar fervorosamente e pedir a Deus mil perdões pelos meus pecados, mas tentei um acordo com Ele: eu só queria adormecer e, se eu acordasse, cuidaria do meu coração, afinal, não sei se vou para o céu ou para o inferno. Melhor cuidar disso enquanto ainda estou aqui em cima, enquanto há tempo. Não queria ser hipócrita e salvar minha alma no último minuto, tinha que ser justa e admitir que a minha dívida é alta. Tentei o acordo!
Admito, faço a minha mea culpa, sou muito cruel com meu coração. Faço o pobrezinho sofrer demais, consinto que ele sofra por amores frustrados, permito que ele se sinta sozinho, deixo que ele trabalhe por nós dois, sobrecarrego o coitadinho com as mágoas mal digeridas, com os “não” que eu não falo, com a minha incapacidade de reagir àqueles que me importunam. Tenho que aprender a evitar os verborrágicos, preciso ser menos perfeccionista, preciso beijar mais os meus filhos. Preciso permitir mais amor na minha vida, preciso ser feliz!
Naquela madrugada eu nem sei como adormeci, mas só acordei com o barulho do despertador! E já que não tinha morrido, tratei de cumprir meu acordo com Deus e procurei um cardiologista. Diagnóstico: bradicardia. Para quem sabe o que é uma taquicardia (acho que todo mundo teve uma um dia), a bradicardia é um batimento assim... invertido! Mansinho, devagarzinho. Bate tão manso que chega a incomodar.
Tive que fazer dois exames: um Eco Doppler e o famigerado Teste de Esforço. Esse sim, quase me matou! Dessa vez quase morri de verdade! Sedentária assumida, em um certo momento senti que meu coração sairia pela boca! Foram longuíssimos seis minutos em uma esteira que mais parecia a subida para o Everest. Não devia ter mais que 45° de elevação. O Eco me permitiu, através de um olhar enviesado, “ver” meu coração. Ele é lindo! O médico também achou. Disse que é bonito, harmonioso e saudável. Confesso que me emocionei.
Sinceramente, me apaixonei pelo meu coração! Acostumado ao meu ritmo estressante, ele resolveu por conta própria desacelerar. Não foi porque eu quis. “Tadinho”, ele resolveu pedir socorro. Para chamar a minha atenção ele fez diferente: ficou quietinho. E eu decidi que vou fazer de tudo para cuidar bem dele. Para começar, eu vou continuar a dieta, vou tentar não me render ao sedentarismo, vou evitar os falastrões, vou andar descalça na beira da praia. Vou tentar harmonizar as coisas e não me cobrar tanto. Vou viver na minha simplicidade e no meu compasso, seguir o descompasso do meu coração.
Márcia Macedo Negrão
Ele batia compassadamente: cinqüenta batimentos por minuto, ritmados, contados e recontados. Meus dedos espremiam minha jugular e todas as veias do pescoço e em cada minuto entremeado por outro longo minuto. Eu era tomada por um medo súbito de morrer. Será que aquelas batidas lentas eram o prenúncio da morte? Aquela lentidão não era normal. Em contrapartida, eu morreria dormindo, pois estava decidida a dormir em paz.
A situação era meio ambígua, mas tudo o que eu precisava sentir naquele momento era paz. Não queria outra coisa, só paz! Tive um ímpeto de pensar nas contas que tenho para pagar, na minha graduação, nos filhos que ainda tenho que criar, nos netos que quero “deseducar”, nas viagens que pretendo fazer, na dieta que eu havia começado e na saudade que eu sentia de uma porção de coisas que ainda não vivi. Quase me perdi em devaneios.
Também pensei em rezar fervorosamente e pedir a Deus mil perdões pelos meus pecados, mas tentei um acordo com Ele: eu só queria adormecer e, se eu acordasse, cuidaria do meu coração, afinal, não sei se vou para o céu ou para o inferno. Melhor cuidar disso enquanto ainda estou aqui em cima, enquanto há tempo. Não queria ser hipócrita e salvar minha alma no último minuto, tinha que ser justa e admitir que a minha dívida é alta. Tentei o acordo!
Admito, faço a minha mea culpa, sou muito cruel com meu coração. Faço o pobrezinho sofrer demais, consinto que ele sofra por amores frustrados, permito que ele se sinta sozinho, deixo que ele trabalhe por nós dois, sobrecarrego o coitadinho com as mágoas mal digeridas, com os “não” que eu não falo, com a minha incapacidade de reagir àqueles que me importunam. Tenho que aprender a evitar os verborrágicos, preciso ser menos perfeccionista, preciso beijar mais os meus filhos. Preciso permitir mais amor na minha vida, preciso ser feliz!
Naquela madrugada eu nem sei como adormeci, mas só acordei com o barulho do despertador! E já que não tinha morrido, tratei de cumprir meu acordo com Deus e procurei um cardiologista. Diagnóstico: bradicardia. Para quem sabe o que é uma taquicardia (acho que todo mundo teve uma um dia), a bradicardia é um batimento assim... invertido! Mansinho, devagarzinho. Bate tão manso que chega a incomodar.
Tive que fazer dois exames: um Eco Doppler e o famigerado Teste de Esforço. Esse sim, quase me matou! Dessa vez quase morri de verdade! Sedentária assumida, em um certo momento senti que meu coração sairia pela boca! Foram longuíssimos seis minutos em uma esteira que mais parecia a subida para o Everest. Não devia ter mais que 45° de elevação. O Eco me permitiu, através de um olhar enviesado, “ver” meu coração. Ele é lindo! O médico também achou. Disse que é bonito, harmonioso e saudável. Confesso que me emocionei.
Sinceramente, me apaixonei pelo meu coração! Acostumado ao meu ritmo estressante, ele resolveu por conta própria desacelerar. Não foi porque eu quis. “Tadinho”, ele resolveu pedir socorro. Para chamar a minha atenção ele fez diferente: ficou quietinho. E eu decidi que vou fazer de tudo para cuidar bem dele. Para começar, eu vou continuar a dieta, vou tentar não me render ao sedentarismo, vou evitar os falastrões, vou andar descalça na beira da praia. Vou tentar harmonizar as coisas e não me cobrar tanto. Vou viver na minha simplicidade e no meu compasso, seguir o descompasso do meu coração.
Márcia Macedo Negrão
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